Tratando do processo de trabalho
em saúde do profissional médico, Emerson Elias Merhy diz:
O processo de trabalho em saúde dos médicos nas unidades de Estratégia de Saúde da Família de Alfenas reflete,
em menor escala, o que acontece no Brasil como um todo: Falta de insumos,
recursos financeiros limitados, elevada rotatividade dos médicos, gestores
ineficientes etc.
Contudo, a saúde pública em Alfenas, em especial quando se trata das
ESFs, ainda é melhor do que na maioria
dos municípios do país, devido em grande parte à presença de duas grandes
universidades na cidade, que precisam que hospitais, ESFs e UPAs funcionem da
melhor maneira possível para atender as necessidades de aprendizado dos alunos
dos cursos da saúde.
Entretanto, mesmo com a pressão das universidades sobre os gestores dos
serviços de saúde, os problemas ainda são grandes. Um exemplo disso seria o
fechamento de salas de vacinação por falta de recursos, ou da falta de
medicamentos que deveriam ser distribuídos pelas farmácias dos postinhos.
Nesse aspecto, de acordo com o texto de Merhy, teríamos um déficit da
“valise vinculada às mãos do médico”, formada por “tecnologias duras”, ou seja,
o médico e os demais profissionais da saúde, muitas vezes, não têm materiais,
medicamentos e insumos para atender os usuários do serviço.
Além disso, há obviamente, profissionais com péssimos instrumentos em
suas “valises da cabeça”, ou seja, com defasado conhecimento clínico e
epidemiológico, seja por uma formação medíocre, seja pela falta de prática,
seja pelo descaso com a vida do próximo.
Por fim, tem-se ainda o déficit no uso de “tecnologias leves”, com
médicos e profissionais que não conseguem estabelecer uma boa relação e vínculo
com seus pacientes e que, quando conseguem, se mantém por pouco tempo
trabalhando naquela unidade, jogando por terra todos os laços que foram criados
para um melhor tratamento daquela população. Porém, no que diz respeito ao
estabelecimento de vínculos fracos com o paciente, espera-se que essa realidade
mude num futuro próximo, devido à nova metodologia de ensino da medicina, com
formação mais humanizada.
Desse modo, conversando com moradores atendidos pelas unidades da ESF, com
as enfermeiras responsáveis pela equipe e com médicos que atuam no programa,
percebem-se problemas em todas as valises, em maior ou menor escala, mas que
afetam diretamente o cuidado com a saúde do paciente.
Existem várias soluções óbvias para melhorar a qualidade da atenção a
saúde do município: liberação de verbas para a compra de insumos, aumento do
salário dos médicos e profissionais da saúde para que eles se estabeleçam na
unidade da ESF e mantenham os vínculos com os usuários etc.
Contudo, se não houver um gestor comprometido com a saúde da população,
em nada adianta ter as soluções, pois não haverá quem as aplique.