O QUE É O INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA? QUAL A IMPORTÂNCIA DELE NO CONTEXTO DE GESTÃO EM SAÚDE?
Hoje discutiremos a importância de uma ferramenta que ainda não está no conhecimento de todos os profissionais de saúde, infelizmente. Sendo você da área ou não, essa publicação pode lhe acrescentar muito no que entende por saúde pública e seus meios para que alcance a qualidade que a população merece. Todos deveriam entender mais de do assunto...
No contexto da atenção primária, o Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida
WHOQOL – bref é um importante aliado para que se possa entender, como o próprio nome sugere, a qualidade de vida da população atendida em cada micro-área e macro-área do município. Não teria como se traçar objetivos concretos e direcionados sem que se entenda o que está acontecendo, e na visão de quem deve opinar, a população. Essa ferramenta traz os pontos mais importantes de uma outra, mais extensa, denominada WHOQOF – 100. Leia o trecho a seguir:
Como não há um consenso sobre a
definição de qualidade de vida, o primeiro passo para o desenvolvimento do
instrumento World Health Organization Quality of Life (WHOQOL) foi a busca da
definição do conceito. Assim, a OMS reuniu especialistas de várias partes do
mundo, que definiram qualidade de vida como a percepção do indivíduo de sua
posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive
e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (The
WHOQOL Group, 1995). É um conceito amplo que abrange a complexidade do
construto e inter-relaciona o meio ambiente com aspectos físicos, psicológicos,
nível de independência, relações sociais e crenças pessoais. (FLECK, 2000, p.
34)
O instrumento é composto por 26 perguntas precisamente elaboradas e divididas em quatro domínios. Tais domínios discriminam informações relacionadas a áreas específicas da vida da pessoa, o que é importantíssimo para que se entenda de onde o problema está surgindo e, dessa forma, como deve ser pensada a solução. Os quatro domínios são os seguintes:
1 - Domínio físico
2 - Domínio psicológico
3 - Domínio de relações sociais
4 - Domínio do meio ambiente
Cada domínio possui um número específico
de perguntas cujas respostas são interpretadas como números. Para exemplificar,
para a pergunta “como você avaliaria a sua qualidade do seu sono?”, as opções
de respostas são: muito ruim, ruim, nem ruim nem boa, boa e muito boa. As
respostas equivalem de 1 a 5, respectivamente. Dessa forma, após obter todas as
respostas, o avaliador (agente comunitário de saúde, médico, enfermeiro,
psicólogo, dentre outros profissionais da área da saúde) precisa fazer uma
média aritmética com as respostas de cada domínio. Por conseguinte, obtém-se um
número de 1 a 5 para avaliar a situação do paciente em cada domínio. Fazendo a
média dos domínios, encontramos um número de 1 a 5 para avaliação da qualidade
de vida geral da pessoa. Temos, portanto, como localizar as falhas. Outra
vantagem é que políticas e práticas exitosas empregadas em um PSF podem servir
de exemplo para outros PSFs e até municípios inteiros. Por exemplo, problemas
identificados no domínio ambiental relacionam-se com a residência da pessoa e
os arredores (bairro, cidade), e os profissionais de saúde podem
organizar, de maneira integrada com a prefeitura, iniciativas para uma maior
resolutividade, integrando setores. Por falar em integração de setores, a
Declaração de Alma-Ata há tempos já falava sobre o tema. Vamos introduzir
abaixo...
Há décadas, consideramos saúde muito mais como, simplesmente, a ausência de doença. Resgatando da história, a Declaração de Alma-Ata elucida tal conceito. Escrita em 1978 no contexto da Conferência Internacional Sobre Cuidados Primários De Saúde (que ocorreu na antiga URSS), o primeiro parágrafo já nos traz o que quero dizer:
"I) A Conferência
enfatiza que a saúde - estado de completo bem- estar físico, mental e social, e
não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade - é um direito humano
fundamental, e que a consecução do mais alto nível possível de saúde é a mais
importante meta social mundial, cuja realização requer a ação de muitos outros
setores sociais e econômicos, além do setor saúde" (DECLARAÇÃO DE ALMA-ATA, 1978, p. 1)
Interessados em ler o restante do documento histórico, o link é o seguinte:
- http://cmdss2011.org/site/wp-content/uploads/2011/07/Declara%C3%A7%C3%A3o-Alma-Ata.pdf
O trecho nos mostra um dos aspectos essenciais que a ferramenta envolve: tratar a saúde não somente como a ausência de doença. O aspecto orgânico ("biológico") do paciente é historicamente o único a ser levado em consideração pela medicina tradicional. Porém, isso vem mudando, e o instrumento em questão é mais um meio para que possamos objetivar a verdadeira saúde do indivíduo assistido, em que, além da ausência de comorbidades, ele apresente uma saúde mental e qualidade de vida dignas. Todos merecem isso!
O objetivo dessa publicação é que você, leitor, aprenda mais sobre saúde pública e gestão em saúde. Para reivindicarmos uma saúde digna à população, devemos entender mais sobre a mesma. O Brasil precisa de mais gestão em saúde e de mais ferramentas como a que comentada no dia de hoje.
Até a próxima!
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